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António Botto, o poeta maldito
Nasceu, em Concavada, no concelho de Abrantes, em 1897 e faleceu no Rio
de Janeiro, em 1959, atropelado por um automóvel.
Em 1908, foi com os pais para Lisboa e instalaram-se na zona típica de
Alfama, onde cresceu. Em virtude de a família ter poucos recursos, começou a
trabalhar cedo. Trabalhou em livrarias o
que lhe permitiu conhecer escritores e mostrar o seu talento, e foi funcionário
público (escriturário de primeira–classe no Arquivo de Geral de identificação) de
onde foi demitido por causa do seu temperamento e comportamento.
António Botto era um homem talentoso, com uma personalidade forte. Era
irónico, irreverente e muito frontal, o
que lhe trouxe muitas inimizades assim como o facto de se assumir como
homossexual, mesmo vivendo casado com uma mulher.
Sem trabalho, tentou sobreviver escrevendo para jornais e publicou uma
coleção de contos que se tornaram um sucesso na Irlanda, tendo sido aprovados
oficialmente para leitura escolar ( The Children’s Book, traduzido por Alice Lawrence Oram).
Ao ver a sua vida degradar-se e devido à
rejeição social, em 1947, emigrou para o Brasil com o dinheiro que angariara na
organização de recitais de poesia em Lisboa e Porto que se tornaram um sucesso.
Foi elogiado por vários intelectuais e artistas, entre os quais Amália
Rodrigues, João Villaret e o escritor Aquilino Ribeiro.
No Brasil, também, a vida não lhe correu bem,
adoeceu, mas veio a falecer por acidente. Em 1966, os restos mortais foram
transladados para Lisboa e depositados no cemitério do Alto de S. João. Em
1989, o seu espólio foi enviado pela esposa para Portugal e doado à Biblioteca
Nacional.
Deixou uma vasta obra: poesia, ficção e peças de teatro. Fez traduções.
Elaborou em conjunto com Fernando Pessoa uma antologia de poemas portugueses
modernos. Fernando Pessoa era seu amigo pessoal e traduziu-lhe a obra “
Canções” para Inglês.
A sua obra é considerada “o mais distinto conjunto de poesia homoerótica
da língua portuguesa”.
Contacta agora com a escrita de António Botto:
Poema
O mais importante na vida
É ser-se criador – criar beleza.
Para isso,
É necessário pressenti-la
Aonde os nossos olhos não a virem.
Eu creio que sonhar o impossível
É como que ouvir a voz de alguma coisa
Que pede existência e que nos chama de longe.
Sim, o mais importante na vida
É ser-se criador.
E para o impossível
Só devemos caminhar de olhos fechados
Como a fé e como o amor.
António Botto (1999). As canções. Lisboa. Editorial Presença.
ContosPara leres um dos contos da obra Histórias do arco da velha clica aqui.
Isabel Aires
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