Tempo de Leitura: Encontro com Miguel Torga
Para conhecer um escritor nada melhor que apurar os sentidos e saborear a melodia das suas palavras.
No poema Bucólica de Miguel Torga,deixa-te envolver no íntimo contacto com a mãe Natureza, na sua dureza primitiva mas também na sua simplicidade e delicadeza.
BUCÓLICA
A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra duma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai erguer uma videira
Como uma mãe faz a trança à filha.
Miguel Torga, Diário I, Ed. do Autor
Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, foi dos mais destacados poetas e escritores do século XX. Atividade que exerceu, em simultâneo, com a profissão de médico.
Com 13 anos, depois de terminar a escola primária foi para o Brasil para casa de uns tios, onde teve uma vida dura. No ano seguinte, regressou a Portugal com o tio que resolveu custear-lhe os estudos. Fez o liceu em três anos e, em 1928, ingressou na Faculdade de Medicina de Coimbra tendo terminado o curso, em 1933.
Iniciou a sua carreira de médico na sua aldeia, mas acabou por se fixar em Coimbra, onde viveu até morrer. Casou com uma professora universitária belga, Andrée Crabbé com quem teve uma filha (Clara Rocha), em 1955.
A sua carreira literária iniciou-se com sua entrada na universidade, ao publicar a obra poética Ansiedade que esgotou, seguindo-se Rampa com sucesso idêntico. Destacou-se como poeta e contista, embora a sua obra seja multifacetada. As obras mais lidas são: A Criação do Mundo, autobiografia ficcionada (5 volumes, 1937, 1938, 1939, 1974, 1981), Bichos (contos, 1940), Contos da Montanha (1941),Novos Contos da Montanha (1944), Diário (16 volumes, 1941 - 1993).
Foi várias vezes candidato ao Prémio Nobel da Literatura, no entanto ganhou vários prémios entre eles, destacam-se o Grande Prémio Internacional da Poesia, da XII Bienal de Knokke-Heist (Bélgica), em 1976; o prémio Camões em 1989; em janeiro de 1991, a revista Le Cheval de Troie dedicou-lhe um número especial. Em 1993, publicou o último volume de o Diário e, em 1995 faleceu, deixando-nos a sua riquíssima obra. Esta está traduzida em várias línguas, inclusivamente em Chinês e Japonês. Atualmente,a casa onde viveu, em Coimbra, é casa museu.
Publicado em 4 de dezembro de 2013
Comentários