Diário de uma refugiada
Campo de Refugiados, Turquia18/11/2015
Querido diário,
Sei, agora, o que é ser uma refugiada síria que fugiu da
guerra. Encontro-me numa situação muito triste e difícil. Atravessei o mar Egeu
e cheguei, hoje, a um sítio a que chamam “Campo de Refugiados”, na Turquia.
Deram-nos, a mim, ao meu pai e à minha mãe (que está grávida) água e alguma comida.
Tínhamos muita fome e frio.
Aqui, há centenas ou milhares de pessoas a viver em tendas e
contam-nos as suas histórias, que são parecidas com à nossa.
Nós saímos, há vários
dias, da nossa casa, na cidade de Kobani.
O meu pai pagou, a um homem, 800 € por cada um de nós, para
embarcarmos num navio cargueiro, mas, afinal, empurraram-nos para um bote
pequeno com mais 25 pessoas. Foi muito confuso, porque as pessoas reclamavam
pelos lugares, que eram poucos para tanta gente. Havia homens, mulheres e
crianças. Algumas delas eram pequeninas e choravam muito. Deram-nos coletes
salva-vidas e mandaram-nos embora. Acho que todos estavam assustados e
desiludidos como eu, mas não tínhamos alternativa.
Um barco grande, que parecia ser da polícia, salvou-nos e
trouxeram-nos para aqui, mas os meus pais dizem-me que nós iremos chegar a
Inglaterra, onde já estão os meus tios à nossa espera.
Não sei se conseguiremos lá chegar, porque ouvi um homem a
pedir, ao meu pai, mais 1600 € para a viagem e eu sei que ele não tem esse
dinheiro.
Estou preocupada, principalmente com a minha mãe, pois ouvi
outros miúdos dizerem que algumas pessoas chegam a ficar, nestes campos,
durante anos.
O que vais ser de nós, querido diário?
Beijinho de boa noite
Kalina
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